

O Mindfulness – ou Atenção Plena – insere-se nas Terapias Cognitivo Comportamentais de 3.ª geração. O termo, que surge nos anos 70 por Steven Hayes1, vem reformular, sintetizar e redirecionar as terapias de 1.ª geração (terapia comportamental) e de 2.ª geração (terapia cognitivo-comportamental).
Pelo Mindfulness, o objetivo não passa por trabalhar tanto os pensamentos, mas sim, o seu contexto e função, e trabalhar a atitude perante os mesmos.
Apesar de difundido, a prática do Mindfulness sofre algumas especulações que originam mitos, que se perpetuam na comunidade.
12 mitos sobre o Mindfulness:
1. A Atenção Plena não é a mesma coisa que pensamento positivo
Quando praticamos a Atenção Plena, estamos a praticar estar com todos os estados mentais: o bom, o mau e o neutro.
2. A Atenção Plena não é uma solução rápida
É necessário ter disciplina para praticar a Atenção Plena e tempo para desaprender os padrões de uma vida. Portanto, será útil deixar de lado as expectativas particulares, ser paciente e confiar no processo.
3. A Atenção Plena não é uma cura milagrosa
Não fará o nosso stress e dor desaparecer, mas, se meditarmos regularmente, mudaremos a nossa forma de nos relacionarmos com os momentos mais difíceis da vida. A nossa relação típica pode ser evitar sentimentos desagradáveis, no entanto, aprendendo a permanecer presente quando experimentamos pensamentos dolorosos, emoções ou sensações físicas, podemos aprender a relacionar-nos de forma diferente com elas. Vemos as “histórias” extra que criamos sobre a dor ou a dificuldade e aprendemos a deixá-las ir, deixando de lado o sofrimento adicional que muitas vezes é gerado por nós mesmos.
4. A Atenção Plena não é uma religião
Embora inicialmente fundado em práticas budistas, alguns dos seus ensinamentos centrais originaram-se nas escrituras hebraicas antigas e, hoje, são ensinadas de inúmeras formas seculares.
5. Praticar a Atenção Plena não é aprender a relaxar
Podemos relaxar enquanto meditamos, mas também podemos não relaxar e isso não significa que estamos a fazer errado. Não estamos a praticar para alcançar nenhum estado mental específico, mas a observar a nossa experiência, seja ela qual for.
6. A Atenção Plena não está a tentar esvaziar a mente do pensamento consciente
Em vez disso, estamos a aprender a ver os nossos pensamentos a passar por eventos mentais e a responder-lhes, interpretando-os, com maior precisão.
7. “A minha mente está ocupada demais para meditar”
Esta é uma crença comum. É da natureza da nossa mente estar ocupada e sempre à procura por coisas novas. Quando praticamos, estamos a aprender a deixar de lado os nossos pensamentos e retornar o ponto de foco, como a respiração. A nossa mente vagará rapidamente e novamente, e a instrução permanece a mesma: assim que nos apercebermos que a mente está a dar um passeio, reconhecemos isso como “pensamentos” e trazemo-la de volta ao foco, sem julgamento.


8. Quando falamos sobre “viver o momento”, não queremos dizer “viver sem levar em consideração o futuro e as consequências”
Significa simplesmente prestar atenção à nossa experiência no momento presente. O passado já aconteceu e não pode ser mudado; o futuro será determinado pelo que fazemos agora, no presente. Portanto, o momento presente é o único em que há oportunidade para fazer algo diferente.
9. Os benefícios da Atenção Plena serão sentidos se praticarmos regularmente
Pouco e muitas vezes é melhor do que mais ocasionalmente. É melhor “tecer o nosso paraquedas” aos poucos, fazendo da Atenção Plena parte da nossa vida quotidiana, do que apenas levá-la em conta quando as coisas ficam difíceis, esperando que isso faça com que todos os nossos problemas desapareçam.
10. Meditar não significa apenas praticar sentado ou a andar
Podemos meditar informalmente, prestando atenção intencionalmente à nossa experiência, à medida que ela se desenrola, sem julgá-la. Posto isto, numa próxima vez que quiserem experimentar “estar no momento”, evitem pensar na vossa “lista de tarefas” ou em algo que já aconteceu. Simplesmente estejam presentes.
11. Não há forma certa ou errada de estar atento
Muitos professores de Atenção Plena sugerem que existe um “caminho certo” ou uma melhor forma de praticar a Atenção Plena. Na verdade, a Atenção Plena é uma experiência pessoal e subjetiva. Portanto, o que pode funcionar para uma pessoa, pode não ter efeito para outra.
12. Aprender a Atenção Plena não é um processo linear
Frequentemente, temos de aprender as mesmas lições, repetidamente, e a nossa atenção parece muito concentrada. Outras vezes, a mente parece muito distraída.
Praticar a Atenção Plena é uma jornada ao longo da vida que oferece inúmeras oportunidades de aprendizado.
Aceitar novos desafios é evoluir
Se pudermos expor este tipo de crenças sobre a Atenção Plena como mitos, podemos remover uma barreira para estar nas nossas vidas de uma forma muito mais profunda. Para muitos, praticar a Atenção Plena de uma forma consistente será um desafio. Mas a vida é cheia de desafios, correto?
Para reflexão:
- Estou ciente de outros conceitos errados sobre a Atenção Plena?
- Há alguma suposição inútil que possa ter feito sobre a Atenção Plena?
- O que me impede de iniciar a prática?
1Steven C. Hayes é um psicólogo clínico americano e professor da Fundação Nevada, na Universidade de Nevada. Cunhou o termo análise de comportamento clínico.
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Catarina Arouca
Filósofa e Socióloga
Mindfulness Practitioner