Se o stress e a ansiedade são dos transtornos mentais mais presentes na atualidade (Organização Mundial de Saúde), a pandemia do novo coronavírus veio intensificar os sintomas relacionados com estas problemáticas do foro mental.
Por outro lado, se a prática do Mindfulness já tinha demonstrado resultados específicos em pessoas que sofrem pelo contacto diário com o stress e ansiedade, agora a prática revela-se ainda mais importante e necessária.
Decorrente também do isolamento social, da incerteza perante a carreira profissional, do medo em relação ao possível contágio da doença da COVID-19, também se intensificaram, numa escala preocupante, os casos de depressão, representando uma segunda onde de estragos à saúde.
Outros fatores de risco que se encontram associados ao surgimento ou intensificação do stress, ansiedade e depressão estão a alimentação desregrada, as doenças preexistentes, a ausência de acompanhamento psicológico, o sedentarismo, presença de idosos no ambiente doméstico, a necessidade de colocar as criança na escola e a necessidade de sair de casa para trabalhar.
A incerteza do dia de amanhã torna-se apavorante. O sono deixa de ser reparador e há mais espaço ao cansaço – físico e mental. A incerteza existente quanto ao fim da pandemia e a ânsia face ao desejo de retomar os antigos hábitos, levam a uma maior dificuldade de aceitação e menor tolerância a uma nova normalidade.
Vivemos tempos únicos na nossa existência. Quando digo “na nossa existência” refiro-me desde o momento em que eu e vocês, desse lado, existimos. Obviamente que existiram mais pandemias, guerras e outros marcos históricos com um impacto devastador. Contudo, hoje é diferente: hoje os modelos de comunicação são diferentes; hoje a locomoção é diferente.
O que dispara o gatilho da tensão, que causa o medo, o stress e ansiedade, é o facto de estarmos perante um inimigo invisível, que pode estar em qualquer lugar, representando um perigo iminente. O Mindfulness – ou Atenção Plena – é uma forma simples e eficaz que permite criar um espaço para pausar, observar e só depois agir.
É expectável que nos sintamos mal, ansiosos, com raiva, insatisfeitos, tristes, desapontados, entre outras sensações e emoções menos positivas. Precisamente por isso, torna-se necessário construir uma base com ferramentas de prevenção e reforçar o acesso ao acompanhamento psicológico, de forma a prevenir outras doenças resultantes da pandemia.
Vejam duas técnicas simples do Mindfulness, que podem aplicar no vosso dia a dia:
– Concentrar na respiração –
Sentem-se numa cadeira confortável, com os pés apoiados no chão, pernas descruzadas e postura correta.
Não façam nada mais que respirar lentamente, para dentro e para fora. Concentrem-se apenas na vossa respiração.
Sintam o ar frio a entrar pelas narinas e o ar quente a sair pela boca. Sintam o ar entrar, a encher-vos os pulmões e a voltar a sair.
Estejam assim por uns momentos.
Lentamente, voltem a vossa atenção para o local onde estão.

– Andar –
Sim, simplesmente andar. Não precisamos de complicar o que é simples, correto?
Andem uns minutos pela sala, num parque ou a caminho de algum lugar.
Se o fizerem em casa, optem por fazê-lo descalços. Enquanto andam, concentrem-se apenas no ato de andar e nas sensações que o mesmo vos provoca. Observem como pousam os vossos pés, se sentem os pés quentes ou frios. Observem como caminham se lentamente, apressadamente, se com passos curtos ou largos. Observem o vosso corpo.
Se estiverem fora de casa, apreciem as sensações da brisa do momento, do sol quente, o som do carro que passa ou de um cão que ladra. Se outros pensamentos vos invadirem a mente, foquem a vossa atenção para a sensação de caminhar.
Acima de tudo, o conselho é de que ouçam o vosso corpo e o respeitem. Em qualquer momento de maior stress ou ansiedade, de pressão, em que se sintam sobrecarregados ou presos, pratiquem a meditação Mindfulness. Retirem-se do local ou de perto de outras pessoas, escolham um local sossegado ou saiam para andar.
Apliquem a técnica que vos faz mais sentido. A prática regular revela benefícios diretos na redução do stress, ansiedade e dos estados depressivos.
Lembrem-se: é preferível praticar todos os dias apenas por 3-5 minutos, que uma prática mais longa, mas irregular ou inconstante.
Não descartem o apoio psicológico. Procurem especialistas na vossa área geográfica. Para além disso, sugiro uma “dieta” às notícias partilhadas. Se estão a sofrer em especial com a situação que vivemos face ao surto da COVID-19, restrinjam o acesso à informação e orientem-se apenas pelos sites das entidades oficiais. Tenham especial cuidado com as fake news e não partilhem informação que não saibam da sua veracidade e sem verificarem a fonte.
Para saber mais sobre a Atenção Plena, cliquem aqui.
Conheçam os mitos do Mindfulness aqui.
Catarina Arouca
Filósofa e Socióloga
Mindfulness Practitioner